Existem dois tipos de medo. Qual deles você experimenta mais?

 Existem dois tipos de medo. Qual deles você experimenta mais?


(Por Jadir Mauro Galvão)





A sensação de medo que normalmente experimentamos em nossa vida, não difere muito do que é experimentado pelos animais instintivamente. Claro que não daria para perguntar a uma gazela ou a um guaxinim o que eles sentem para tentar depois contrastar com o que sentimos. O que falo aqui é de um medo primordial que nasce junto conosco. É inato. (John Locke se reviraria no túmulo se me ouvisse agora rsrsrs).

Antes de seguir com essa reflexão é preciso delimitar que estou falando aqui dos medos verdadeiros e reais, mas esse funcionamento é o mesmo para os medos falsos <<Clique aqui para entender o que são medos falsos>>.

Os dois tipos podem ser chamados de medo, mas tem funcionamento e caracterização diferentes. Para explicar melhor vamos dar um exemplo facilmente observável em qualquer desses documentários sobre vida animal.

Na natureza, sobretudo entre as presas, mais que nos predadores, o medo é presença constante. É comum os filhotes quando começam a sair de suas tocas espreitarem para lá e acolá. Quando fitam o macho a certa distância sabem que da toca até onde o pai está é caminho seguro. Todavia, caso algum perigo apareça ainda resta voltar para a toca e para junto da fêmea.

Na medida em que vão crescendo, cresce na mesma medida a irresistível atração pelo novo, pelo desconhecido. A toca fica apertada e o mundo ao redor oferece mais possibilidades. Embora existam exceções, cabe ao macho explorar o novo e à fêmea guardar conhecido, o seguro.

O desconhecido exerce esse fascínio da novidade, embora sempre exista a possibilidade do perigo. Mas, tanto nos animais quanto em nós, o fascínio do novo, em condições naturais, é superior ao medo do perigo.

Voltando nossa atenção a nós humanos, podemos caracterizar esses dois tipos de medo que atuam em nós. Um é esse medo do desconhecido, do novo, do perigo que ele pode nos oferecer. O outro é o de perder a segurança que se tem, o refúgio, a estabilidade.

Na medida em que vamos vivendo, aprendendo e mesmo padecendo de um ou outro revés, nossa elaboração acaba ganhando feições mais humanas e menos naturais.

Essas elaborações podem ser mais ou menos eficazes, mais ou menos produtivas.

Guiados pelo fascínio do novo, pode ser que experimentemos em nossa jornada mais surpresas desagradáveis do que agradáveis. Isso pode nos tornar mais prudentes ou mais covardes. Prudência como virtude humana na posição oposta do vício da covardia. E aqui não se trata de mera semântica. Covardia e prudência são coisas diametralmente opostas.

Mas mesmo covardes, o fascínio pela descoberta do novo parece irresistível. É aqui que entra a expressão: “se está com medo, vai com medo mesmo!”. Isso mostra que em seu funcionamento ordinário esse medo não é impeditivo da ação. A força atratora do novo parece superar, em condições normais de temperatura e pressão (CNTP) e medo do perigo.

Mas para o outro tipo de medo o funcionamento parece diferente. A perda da “toca”, da segurança, do conhecido, do que já se conquistou, do que já se conhece, parecer exercer sobre nós um medo paralisante. Aqui menciono outra expressão popular: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come!”. Parece que nenhuma das opções tem eficácia. Se vai para um lado é ruim, para o outro é pior. Então se fica onde está. Paralisado pelo medo.

Por isso, mesmo em pessoas ousadas, que traçam os objetivos mais ambiciosos, estes normalmente estão ao alcance do olhar. Quero chegar lá! Ainda que esse lá seja o mais longe que eu possa ver, ele ainda está dentro do conhecido. Funcionando como nosso limite e regulado mais pelo medo que pela ambição. Dito de outro modo, ambição limitada pelo medo.

Joseph Campbell, quando descreve a jornada do herói dá atenção especial a esse desapego do antigo. Abandonar o conhecido, o confortável, o seguro, exige certo grau de heroísmo.

A covardia aqui aparece no limite entre o fascínio do novo e a perda do antigo. A perda da segurança sabota o ímpeto p

ela busca do novo.

O que de melhor o novo pode nos oferecer é a surpresa. E é a surpresa que mantém o brilho em nosso olhar e torna nossa vida digna de se viver. Mas quando ela é acanhada pelo medo, nossa primeira perda é da surpresa, depois o brilho no olhar e, por fim, a incerteza se esta vida é digna de se viver.

Mas é possível escapar desse acanhamento e acender a ousadia livre do medo. Distinguir os medos verdadeiros dos falsos e mesmo reconstruir uma vida digna de se viver.     

  

Quer saber como?

 

Vamos fazer isso juntos?

 

Agradecimentos:

Foto de Alex Dugquem: https://www.pexels.com/pt-br/foto/adoravel-encantador-cativante-animal-4329921/

Foto de veeterzy: https://www.pexels.com/pt-br/foto/estrada-entre-pinheiros-39811/

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