Sobre política e poder

Por (Jadir Mauro Galvão)

Um sentimento de impotência nos assalta quando vemos misturados no mesmo balaio o bom e o ruim. Jogadas de marketing tendem a deixar indiferentes tanto joio quanto trigo. Misturam corruptos conhecidos com denúncias de corrupção, de malfeitos, e desmandos. Inverdades que pretendem apenas macular a imagem do opositor no intuito somente de, pontualmente, impactar pesquisas de intenção de votos. Uma competição pelo premio de ter o poder nas mãos por um mandato ou de ter a máquina administrativa sob seu comando para manter o poder pelo tempo que for possível.  Uma disputa por um mandato que terá como remuneração total, somados salários e ajudas de custo, se tanto, um milhão de reais, disputados em campanhas que custam cinco vezes mais. Como justificar tal ânsia de poder? Sequer podemos dizer que se trata de uma ganância pelo próprio dinheiro. A conta não bate!
Mesmo que um candidato assumidamente bem intencionado, de reputação ilibada consiga merecidamente vencer o pleito, certamente terá de fazer acordos para garantir governabilidade. Estará inserido em um meio onde impera a cultura dos conchavos, do famigerado toma-la da-cá. Será apenas uma fruta madura, ou melhor verde, em meio a tantas outras podres. A questão que quero salientar é justamente a ideia de poder. Esse sonho de consumo pelo poder. Essa megalomania contagiosa do qual são infectadas mesmo pessoas de bem. Trata-se de uma batalha para se obter o poder e de concentrá-lo apenas em poucas mãos. Mas será que isso realmente é poder?
Ao longo da historia do homem, esse poder foi conquistado de inúmeras maneiras diferentes. Nos grandes impérios foi conquistado pela força, pelo poderio bélico. Em outros momentos, o conhecimento de magia e a proximidade com as divindades outorgava o poder. Em outros mais, certa fidalguia diferenciava os donos do poder de uma plebe, rude, sem instrução, sem organização e sem voz. Ainda que o clamor popular tenha, lá e cá, se feito ouvir através de uma pretensa democracia, ainda somos governados por uns poucos que usam do poder de governar mais para a manutenção do poder do que para, efetivamente, administrar e conduzir um povo para o bem. Hoje a propaganda ou do dinheiro, colocam no poder ou retiram dele, manipulando não só a vontade popular, mas também o legislativo e o judiciário. Portanto não creio que mudanças na política possam produzir transformações sociais efetivas que não a prática de um populismo barato, que oferece meras ações de impacto visando somente a manutenção do próprio poder.Então o que podemos fazer para reverter quadro tão sombrio, já que as alternativas do jogo já estão com cartas marcadas?
O primeiro ponto que podemos repensar é justamente a ideia de poder. Será que é mesmo desse modo que devemos entender o exercício do poder? Poder é sempre exercido por alguns poucos subjugando todo o restante? E se permitíssemos que a população pudesse se apropriar de seu verdadeiro poder? Não outorgar o poder a um ou poucos representantes, mas permitir um auto-empoderamento? O primeiro ponto aqui é, se oferecermos as condições de empoderamento a uma massa de pessoas que foram mantidas na ignorância e no semi-analfabetismo, seria o mesmo que soltar um rinoceronte em uma linda loja de cristais. Cego, bruto e com medo da própria sombra, faria um verdadeiro banzé e mais destruiria do que construiria. Mas, entre meus alunos, enxergo alguns líderes natos, mas eles mesmos não se vêem como tal. Pessoas que se bem trabalhadas certamente chegariam a cargos de liderança em empresas ou até na sociedade, mas que mergulhados em um mar de mesmice acabam por ansiar apenas pelo feno e ração diárias. Transformam-se em mera massa de manobra também sem voz e nem ação. Estes sim, se fossem talhados para fazer aflorar seu poder pessoal, poderiam modificar seu meio com condutas éticas e ações efetivas. E se pudéssemos encontrar inúmeros desses exemplares, formar um cem número de notáveis em diversos campos de atividade e oferecêssemos ferramentas de transformação, de comunicação, de liderança, de tomada de decisão? E se possibilitássemos a criação de uma consciência crítica para, não só avaliar seu entorno, mas para identificar padrões recorrentes de vícios e lhes déssemos as ferramentas necessárias de comunicação para promover mudanças em seu meio? E se isso pudesse se propagar em uma rede de pessoas interconectadas que se ajudam mutuamente? Muitos somados remando noutra direção que não a dessa política que busca o poder so para si?
Claro, para tanto seria necessário uma transformação interior profunda para limpar determinados padrões de consciência de medo e de domesticação que foram sedimentados através da cultura de gerações. Padrões de pensamento mesquinho e egoísta que afloram organicamente dentro de uma cultura capitalista. Desbloquear a percepção contaminada pela ideologia para que se consiga pensar e perceber estruturas não comprometidas com o mesmo jogo de poder. Caso contrário, estaríamos criando novos monstros sedentos de poder. Novos Leviatãs devoradores de carne de gado humano.  

Essa é a proposta da Teia do Bem. A criação de um grupo de líderes notáveis. Com ferramentas e poder de transformação da cultura. Uma transformação que deve ocorrer não de cima para baixo, a partir de um poder político central, mas mudanças que possam emergir de baixo para cima, com a criação de uma consciência ética no seio da população. Não uma transformação orquestrada doutrinariamente por uma ou poucas mentes manipuladoras, mas de dentro da própria consciência de cada um, de modo autônomo, fazendo emergir condutas éticas e, por que não dizer, sustentáveis?

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