De doenças invisíveis.


De doenças invisíveis.

 (Por Jadir Mauro Galvão)

Nossa sociedade se desabituou do invisível. Jogou-o na conta do ilusório, do fingimento, do mito no seu pior sentido, do não científico, do irreal, numa palavra: do inútil. Por outro lado, esse mesmo invisível nos acompanha mesmo que despercebido e por vezes nos assombra. Falemos agora de um dos invisíveis mais cruéis: as doenças. Muita comoção e disposição são aguardados quando de um acidente que deixa um rastro de sangue ou uma fratura exposta. Uma úlcera, uma hepatite, uma pedra nos rins e até mesmo uma gripe mais forte são compreendidas, mas tudo isso é visto, ouvido e sentido. São coisas visíveis, tratadas como fatalidades da qual o doente é vítima e na acepção da palavra paciente. Mas hoje somos assolados por inúmeras doenças que não são físicas. São doenças emocionais, mentais, e não se acredite que estamos falando de loucura, mas sim de falta de sentido de muitas coisas. Mesmo doenças espirituais, quando a própria vida parece não fazer sentido. Mas dessas somos considerados pejorativamente agentes e não pacientes.
Isso acaba por produzir no doente certa dose de culpa que o sobrecarrega com um fardo dispensável. A desesperança, a aflição e a angústia; a confusão, o desnorteamento e a falta de sentido não podem ser tratadas com remédios físicos, alopáticos. Não são doenças do físico, mas do corpo emocional, mental ou até espiritual. Mas isso não significa que requereiram menor cuidado. Mas nossa medicina objetiva não tem dessas, conhecimentos adequados, tampouco tratamentos. Mesmo a depressão e a ansiedade são tratadas, no mais das vezes, apenas no seu âmbito físico deixando seu principal de lado. Não sabemos que ajuda pedir, não sabemos que conselho dar. Nos apegamos a religião, quando não as drogas. Alguns, dotados apenas de sua percepção física podem alegar que nenhuma dessas doenças ocorre em quem lava um tanque de roupa ou racha uma lenha, mas quando não percebidas ou quando não cuidadas podem emergir em doenças físicas.

Não me peçam a prescrição de medicamentos, tampouco de tratamentos eficazes. Mas no geral o próprio paciente acometido de tais males tampouco almeja por isso. Quem sabe não seja a doença que precise de cuidados ou de maior atenção, mas sim o doente. Talvez seja um meio de conseguir a atenção, o cuidado, o amor, o abraço. Arriscado oferecer tudo isso somente para o tratamento da doença tornando-a necessária. Melhor repensar nossas prioridades cotidianas que deixam para lá devido a atribulação diária, outros invisíveis como o amor, a amizade, o cuidado a atenção mesmo quando não se fazem visivelmente necessárias. 

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