Sobre politica e eleições

As dificuldades encontradas nos dias atuais da nossa política não são, nem de longe, peculiaridades meramente Tupiniquins. Determinados fatos e conceitos abriram a senda de acontecimentos entrelaçados na história recente do mundo e que afetaram e ainda afetam nossa política e também nossas eleições. Descolado desse contexto talvez nos faltem elementos de análise mais bem acurados, tanto quanto nos sobrem especulações vazias de realidade e de história. Vamos tentar analisar alguns desses conceitos e fatos, na tentativa de justificar as dificuldades do momento atual. Na primeira parte vamos propor uma leitura da história recente, tendo como fio condutor o problema da legitimidade de poder enfrentada na política do hemisfério sul, desde que os movimentos de independência tornaram “livres” as colônias da usurpação do velho continente, em contraste com o nascimento e expansão do socialismo ao longo do século XX. Na segunda parte vamos trabalhar a questão da globalização em seu sentido talvez mais pernicioso, e de como esse movimento afeta nossa política local. Por fim, na terceira parte, vamos buscar articular o estilo de pensamento mítico em nossos dias atuais e como ele é utilizado sistematicamente nas campanhas eleitorais escamoteando a verdadeira face dos políticos e criando salvadores e super-heróis contemporâneos. Dificuldade essa que, praticamente nos impede de distinguir o bom político do político bom.

Etapa I – O nascimento do Populismo: um modo de ser e de agir na política.


Os movimentos de independência tiveram início no final do Século XVIII no hemisfério norte, com a criação dos Estados Unidos da América e reverberaram no Século seguinte por todas as então colônias do sul, tanto do leste quando do oeste, mais sensivelmente na América Latina. Sobre isso diz Chatelet: “Ela (a revolução na América do Norte) influirá nos atos iniciais da Revolução Francesa; desempenhará um papel capital no desencadeamento das insurreições que levarão as colônias espanholas e portuguesas da América do Sul à independência”. (CHATELET. 1985 p 88). Como num efeito dominó, foram se tornando independentes as colônias espanholas da América do Sul e também o Brasil. Neste último, a presença do Rei de Portugal retardou um pouco o processo, o que deu características um tanto diferentes dos outros. Nossa independência foi declarada por aquele que seria o sucessor natural do trono português e postergou a crise de legitimidade de poder para mais adiante.
Uma vez independentes, as agora ex-colônias padeciam de certa crise de legitimidade. Enquanto colônia o poder era exercido pelo colonizador sem questionamentos, mas agora independentes quem conseguiria constituir ao redor de si legitimidade suficiente para a manutenção do poder? Frente a isso, uma sucessão de golpes e uma instabilidade político-administrativa retardavam o desenvolvimento e o estabelecimento de uma soberania nacional, anseio de todos os Libertadores.
No Brasil, em especial, somou-se outro ingrediente particular. A população recebia um generoso aporte de imigrantes vindos de várias partes do mundo que também não mantinham relação afetiva ou histórica com o país. Em fuga das condições miseráveis que se encontravam em suas regiões, formavam um contingente que mitigava ainda mais o poder. Com uma economia incipiente e uma educação eminentemente européia e fundamentalmente restrita a pequenas parcelas da população, era difícil atingir uma maioria. Uma sociedade ainda com ares escravagistas e composta de pequenas elites e legiões de deserdados sociais das mais diversas etnias, não tinha a coesão necessária para a manutenção de um poder legítimo.
O artifício foi promover projetos que oferecessem certo grau de cidadania. Uma generosa porção de trabalhadores urbanos e rurais que careciam apenas de um pouco de atenção. Só um pequeno reconhecimento desses deserdados e sua inclusão em um contexto social. Nasce, assim, a prática e o artifício capaz de oferecer legitimação do poder: o Populismo. A prática consiste de atender anseios populares, em troca de se obter o apoio necessário à manutenção do poder político. Basta observar as necessidades de diversas minorias, que juntas somem um contingente de apoio suficiente à manutenção do poder. Instituição de feriados religiosos honrando personagens de determinadas culturas, nomes de ruas... No Brasil a famosa CLT (Consolidação das leis do trabalho) teve um amplo apelo popular que deu a Vargas o apoio necessário para governar, mesmo ante oposições ferozes. Por toda a América Latina, vários foram os “caudilhos” que personificaram essa pretensa “voz do povo”. É que a idéia de caudilho se forma a partir dessas ações de apelo popular, mas se mantém num culto à própria personalidade carismática do governante. É mais um meio de se obter o apoio popular do que um verdadeiro governo democrático com vistas ao bem do povo. Vale mais o discurso inflamado do que as práticas. Vale mais a popularidade da ação do que o próprio valor da ação.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, o Socialismo se expandia, e muito. Uma vez implantada a União das repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que agregavam Rússia, Ucrânia, Letônia, Lituânia entre outros, contavam também com um forte alinhamento de outras nações independentes como a antiga Iugoslávia, Tchecoslováquia, Polônia, Hungria e Bulgária. Some-se a isso toda uma China socialista, Afeganistão e até mesmo Coréia e Vietnã em vias de se tornar socialista e ainda Cuba na América central. A expansão socialista era grande o suficiente para provocar calafrios em todo o restante do mundo capitalista. Por todo o mundo vários líderes populistas se enamoraram dessa idéia socialista. Na sua viabilização o socialismo tornou-se menos uma ditadura do proletariado, isto é, do povo, e mais uma ditadura pessoal ao estilo populista, com apelo e apoio das massas conquistado à força.
Todavia essa aproximação não foi bem vista pelo restante do mundo essencialmente capitalista e provocou uma resposta um tanto maquiavélica. Governos de países capitalistas incentivaram facções militares à tomada do poder por golpe e mesmo ofereceram auxilio logístico para o sucesso desses intentos. Um a um os principais líderes populistas nas Américas foram derrubados e substituídos por governos militares de pulso forte que sem o menor pudor eliminaram diligentemente seus opositores, exilando, prendendo, calando sua voz ou fazendo-os desaparecer misteriosamente. Por todo o dito terceiro mundo e mesmo em países africanos e do oriente médio nasceram duras ditaduras militares que sistematicamente rechaçavam opositores e mantinham uma política austera de estímulo ao sentimento de patriotismo e civismo. Escolas hasteavam bandeiras com alunos em posição de sentido, mãos no coração, uniformes impecáveis, cantando o hino e comemorando datas cívicas com orgulho. Paradas militares extremamente festivas que arregimentavam multidões, todos com suas bandeirolas em punho agitadas fervorosamente. O apoio para as ditaduras militares eram tanto econômico, militar, como logístico, oferecido pelo mundo mais rico, e mantinha sua fidelidade obtendo em troca uma legitimação do poder conseguida a força. Enquanto isso a imagem socialista era sistematicamente manchada por uma Indústria Cultural que explorava a Guerra Fria com seus agentes secretos duelando com seus algozes: os malvados socialistas.
Com a abertura política e distensão econômica proposta nos anos 80 por Mikhail Gorbachev na Rússia, houve uma dissolução do bloco soviético e o socialismo caiu em ruínas. O golpe de misericórdia veio com a queda emblemática do muro de Berlim em 1989. Essa mudança transformou os contornos do mundo e respingou nas ditaduras militares com a sistemática redução do auxilio dos países ricos à esses regimes ora desgastadas e agora enfraquecidas financeiramente. Pouco a pouco todas as ditaduras vieram abaixo e no Brasil não foi diferente. Sem a sombra do socialismo rondando o mundo não era mais preciso tamanho investimento para impedir seu crescimento. Se por um lado ganhamos em liberdade com a restauração da democracia e do voto popular, por outro, tivemos de pagar a conta da dívida externa que provocou tanto recessão quanto inflação. E, pior que isso, tivemos que lidar com a dificuldade da legitimidade do poder novamente. Alguns governos desastrosos ofereceram o ambiente propício para e ascensão de lideres carismáticos populistas promovendo um movimento neopopulista em diversos cantos da parte “em desenvolvimento” do mundo. Ainda que, com o aval de uma democracia, nasceram tanto fantoches com votos como eminências pardas que, se valeram das figuras mais populares para disseminar suas idéias encobertadas pelas figuras carismáticas de apelo popular.
Com um mundo hegemonicamente capitalista, pouco espaço sobrou para discussões políticas mais ideológicas. As propostas das mais diversas legendas políticas giram somente em torno do brilho dos discursos ou do carisma de seus candidatos. O debate político ficou esvaziado e teria melhores chances quem oferecesse o melhor discurso econômico. Mas o tom populista ainda é o atalho para o poder. Com o crescimento refreado durante tanto tempo, todo o progresso por mais efêmero e desnecessário que fosse, tornava-se slogan de campanha. O mundo se modificou, os tempos de ditadura militar desestimulavam o debate político. Com isso eleições deixaram de ser um atrativo para transformações e se mudaram em eventos de busca do poder pelo próprio poder. O povo, propriamente dito é tão somente uma das variáveis desse trajeto.

Questões para reflexão:
1)      A democracia realmente representa a vontade do povo?
2)      É possível um governo completamente isento de corrupção?
3)      O governante que chega ao poder tem condições de governar para o povo ou os meandros do poder exigem conchavos e negociações políticas com outros detentores de poder?
4)      O que seria mais verdadeiro afirmar nos dias atuais: que o poder político serve ao povo ou é o povo que serve ao poder?
5)      Como poderíamos distinguir o político que governa para o povo, do populista que tem no povo apenas seu meio de garantir o poder?


Etapa II – Globalização, marketing e cultura: um novo colonialismo?

Que a globalização nos trouxe inúmeros benefícios, não se pode duvidar. O mundo agora está praticamente todo interconectado. Temos acesso a informações sobre o que acontece no Oriente Médio, na Turquia, no Paquistão... Podemos conversar com pessoas, fazer novas amizades ou contatar amigos que estejam do outro lado do planeta. Experimentar a culinária mais exótica com ingredientes mais improváveis que circulam numa cadeia de exportação sem precedentes. Os mais variados requintes das mais diversas culturas estão ao alcance de algumas poucas conexões reais ou virtuais. O mundo pode experimentar a Tequila produzida no México ou a Cachaça produzida em algum rincão de Minas Gerais. Podemos nos dar ao luxo de comer Tabule na segunda, Sashimi na terça sem dispensar a Feijoada na quarta. Produtos, tecnologias, informações, pensamentos também gozam da facilidade de acesso. Rituais tribais malaios, casamentos iroqueses, cerimônias druidas expostas em vídeos na internet. Tudo isso ampliando nosso conhecimento, perspectivas e oportunidades. Ampliando nosso leque de escolhas, oferecendo uma nova dimensão para o pensamento e para a ação.  
Contudo, não podemos perder de vista o lado mais daninho da globalização que se apresenta por inúmeras faces diferentes. Diz Aranha: “Os novos meios (de comunicação) são responsáveis pela rápida e ampla difusão da informação, ao mesmo tempo que trazem  o risco de massificar e homogeneizar, podendo descaracterizar as culturas tradicionais e diluir as diferenças individuais.” (ARANHA, 2005 p 83). Se temos farta diversidade de opções culinárias nas grandes metrópoles, não é menos verdadeiro afirmar que grandes redes de fast food produzem pizzas que não podem ser chamadas por esse nome. Esfihas que deixariam qualquer árabe horrorizado. Presuntos que nada se assemelham aos originais. No afã de oferecer a diversidade cultural pasteurizam o produto para agradar ao gosto e atrair o lucro, menos do que para oferecer uma real experiência gastronômica multicultural. Pior do que isso, fazem ostensiva propaganda de seus produtos e domesticam paladares, matando a culinária e a cultura local, tanto quanto seus produtores rurais. Produções de escarola, rúculas, chicórias e almeirão, substituídas por uma monocultura de alfaces macdonaldizados. Prática semelhante às primeiras colonizações que sobrepunham a cultura européia às culturas locais. Catequizavam curumins ignorando suas raízes mais marcantes no intuito de retirá-los de um pretenso paganismo e de certa barbaridade. Numa palavra: civilizando, ou melhor, impondo uma cultura em detrimento de todas as outras, no mais descarado preconceito de evolucionismo social.
Se essa prática neocolonialista ficasse restrita à alimentação o mal seria menor, mas temos também o fenômeno das fusões onde mega-empresas[1] absorvem as pujantes indústrias locais, concentrando o poder na mão de poucos, mesmo que preservando certa diversidade de produtos. Ocorre que hoje nas gôndolas dos supermercados temos inúmeras marcas diferentes de produtos, mas a maioria delas controladas por alguns poucos conglomerados. Pequenas, mas pujantes construtoras sendo absorvidas por maiores. Um pequeno número de bancos; gigantes do ramo alimentício, farmacêutico, criando oligopólios mundiais que dragam os recursos dispersos por todas as faixas da pirâmide social diretamente para o topo.
Mesmo assim, se esse fosse meramente um artifício do jogo econômico o mal ainda seria menor. Ocorre que esses grandes conglomerados também são os grandes financiadores de campanhas eleitorais. Mas seus financiamentos não se restringem a dar apoio a determinadas correntes ideológicas. Financiam campanhas de candidatos das legendas A, da B e também da C. De sorte que, qualquer que seja o candidato vencedor, este terá seu debito moral com seu apoiador. Mesmo que o eleito adote uma postura de isenção e, de fato, governe para o povo, sem dar qualquer contrapartida para seus financiadores, esses podem se recusar a investir em sua próxima candidatura inviabilizando sua reeleição. Sem financiamento de campanha o político tem sua exposição bastante restrita e, mesmo sendo um bom político, perderá a oportunidade de ser um político bom. Que ganha eleições, que aparece na mídia, que todos conhecem. Perderá, por carência de recursos, a possibilidade de contratar os melhores profissionais de marketing, os melhores assessores de imprensa. Ademais, os financiamentos não são dos candidatos, mas dos partidos o que transforma o candidato em mera marionete sem vontade própria, mas guiados pelos interesses do partido.
Hoje temos candidaturas globalizadas. Não votamos mais em ideias, se tanto em personalidades carismáticas. Não votamos em contrapontos ideológicos, eles morreram! Votamos no poder econômico e este é quase que hegemônico. E mesmo o exercício da política e da legislação não pode colidir com os interesses dos financiadores. O espaço para manobras só é possível se passar ao largo dos interesses econômicos maiores, e porque não dizer globais.

Questões para reflexão:
Discuta primeiro em pequenos grupos e depois promova um debate entre toda a sala.                  
1)      Nos dias atuais é o poder político que governa o poder econômico ou é o poder econômico que dita os rumos da política?
2)      O poder econômico tem força para sobrepujar os anseios populares?
3)      Deveríamos execrar a figura do político corrupto, ou ele representa uma parcela da população também corrupta e que só não se faz ver devido à falta de oportunidade?
4)      É possível manter isenção política mesmo com financiadores de campanha privados?
5)      É possível um bom candidato se eleger mesmo sem grandes financiadores de campanha?

Etapa III – Interdisciplinaridade – O pensamento mítico e os super-políticos
            
Muitas pessoas ainda hoje nutrem a crença de que o mito é algo fantasioso, fruto de devaneios ou de alucinações. Talvez isso se deva ao caráter fantástico que se atribui às narrativas míticas. Possivelmente em nossa cultura ocidental, cosmopolita e capitalista nos seja difícil conceber seres extraordinários como dragões, fadas ou mesmo de anjos. A dificuldade aumenta na proporção da distância de nossa cultura. Para uma cultura nórdica não seria difícil admitir dragões falantes, trasgos ou duendes. Para nossa cultura brasileira um Saci teria melhor aceitação do que um Minotauro. Mas o que nos importa dizer é que o mito narra uma verdade. Pode até narrar essa verdade envolta em uma história fantástica e que nunca será possível comprovar, mas o que vale é mais a verdade do que seu lado fantástico.
A reputação do mito é oferecida pela credibilidade do narrador. Para o povo judeu não há que se duvidar a veracidade dos mandamentos oferecidos a Moises embora nunca ninguém possa atestar a veracidade da informação, mas a credibilidade do narrador não é posta em dúvida. Mesmo no caso do cristianismo, não fosse a credibilidade dos reis magos e a reputação da virgem Maria poderia ser confundida com fantasias de uma adolescente infiel.
Mito é verdade revelada, verdade de caráter divino e que, ainda que não se possa comprovar, não há que se duvidar. Mas para acentuar seu caráter divino, retira-se da narrativa tudo aquilo que poderia transformá-lo em mundana. Aquiles não tem frieira nem dor de barriga. Davi não sofre angustiado contra Golias. O fígado de Prometeu se regenera da noite para o dia. Os conflitos narrados no Velho Testamento são tratados como vitórias abençoadas e nada se fala sobre o sangue derramado em batalhas sangrentas.
Mas o ponto que mais nos interessa no momento não é propriamente o mito ou sua verdade, mas sim o estilo de pensamento mítico. Um jeito característico de pensar apropriado para as verdades míticas e suas narrativas. Crédulo, não crítico, não se preocupa com possíveis contradições ou exageros da narrativa. O pensamento mítico confia quase que cegamente. Se tanto reputa aos exageros caráter figurado ou de menor importância. O pensamento ao estilo mítico não se presta a constatações empíricas ou comprovações lógicas. É o típico estilo de pensamento que não se questiona como pode ter havido o dia e a noite do primeiro dia, sem que a terra tivesse sido criada completamente e tampouco pudesse girar ao redor de si mesma.
Essa característica de credulidade e ingenuidade do pensamento mítico é uma velha conhecida dos profissionais de marketing. É o típico estilo de pensamento que realmente acredita estar saboreando o sanduíche exposto de modo maravilhoso no cartaz de dois metros de altura quando na verdade bastaria um mínimo relance do olhar para perceber a nítida diferença. Que confia nas propriedades miraculosas do sabão em pó sem ao menos desconfiar da qualidade da máquina de lavar ou da qualidade do tecido. Que desconfia da água, mas acredita no shampoo. Que acredita tanto nas promessas quanto nas desculpas e justificativas de seus políticos prediletos.
Cientes desses atributos do pensamento mítico, nossos políticos e seus marqueteiros constroem para o candidato uma aura mítica com características arquetípicas louváveis e criam uma imagem isenta de máculas. Nos conta Aranha:        

[...] cortamos e escondemos parte da história do mito, o modo como foi produzido e usado, seja pelos meios de comunicação, seja pelo poder, e anulamos o seu sentido humano. O que permanece é só a utilização dos mitos de forma não crítica, apenas para canalizar anseios, medos e desejos da sociedade em determinada direção (ARANHA, 2005 p 127)
           
Não sabemos mais como é o político na realidade. Conhecemos apenas sua face construída, elaborada, talhada para ser agradável e atender aos anseios populares. Suas preferências mudam ao favor do vento ou das pesquisas. Suas alianças mais espúrias são justificadas com frases de brilho e de efeito. O adversário é maculado em sua reputação do modo mais perverso ainda que se possa, num segundo momento, ressaltar qualidades outras que não foram mencionadas, caso consigamos uma aliança pontual. O marketing cria personagens e estes sobrepujam os políticos, os projetos, as ideias tanto quanto o interesse púbico.
O poder econômico que vende seus produtos das mais variadas utilidades, mas sonega a possível solução definitiva, é o mesmo poder que constrói ou destrói a reputação dos políticos. Tivemos na história recente do Brasil, um épico caçador de marajás derrubado e execrado como traidor e corrupto. Uma figura caricata que ergueu sua reputação em cima do slogam do “rouba, mas faz”. Um salvador da pátria, altamente populista e assistencialista que se transmutou de sindicalista intransigente e indômito, para a mais cândida figura, personificação de paz e amor.        
Por fim gostaria de questionar a verdadeira razão de ser da própria política. Historicamente o povo sempre manteve uma postura de tutor-tutelado com seu governo. Passadas as eleições não reservava qualquer esforço para ver por quais caminhos trafegavam seus tutores. Bastava que seu cotidiano fosse o menos possível atormentado, e este ganharia a fama de “bom político”. Caso contrário se, mesmo por necessidade de transformações estruturais, o tal político provocasse transtornos ou exigisse sacrifícios, desde que não conseguisse transformar o hercúleo esforço em heroísmo mítico, entraria para história como vilão. Mas é realmente essa a relação que devemos manter com os governantes? Buscando a sensatez da razão, eles são menos nossos governantes do que representantes dos nossos mais sinceros anseios. Nós, enquanto representados, devemos exigir de nossos “servidores públicos” as contas de suas opções, de seus custos, de seus caminhos e propósitos. Cobrar sistematicamente sua postura, sua atitude, tanto quando suas finanças. Mas isso requer dedicação, envolvimento e participação. Dor de cabeça que talvez não estejamos dispostos a assumir. Mais fácil reclamar e dizer que política não se discute!
    
REFERÊNCIAS.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4. ed. São Paulo: Moderna. 2009.
CHATELET, François. Histórias das idéias políticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985
CHAUÍ, M. - Convite à Filosofia. 14ª.  ed., São Paulo: Ática, 2010.
REALE, Giovanni. História da filosofia: Do humanismo a Kant / Giovanni Reale, Dario Antiseri. 6ª. Ed. São Paulo: Paulus, 2003. (Coleção filosofia).


[1] Dados sobre grande conglomerados empresariais e seus controladores, bem como financiamentos de campanhas eleitorais podem ser obtidos no site: http://proprietariosdobrasil.org.br/
yle=q � k r �� e;mso-highlight: white'>História da filosofia: Do humanismo a Kant / Giovanni Reale, Dario Antiseri. 6ª. Ed. São Paulo: Paulus, 2003. (Coleção filosofia).

ROBINSON, Joan. Liberdade e necessidade. São Paulo: Abril Cultural, 1980 (Coleção Os Pensadores)



[1] ROBINSON, Joan. Liberdade e necessidade. São Paulo: Abril Cultural, 1980 (Coleção Os Pensadores)

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