Como nascem os nossos medos?

Como nascem os nossos medos?

 Por Jadir Mauro Galvão



Claro que existe um medo ancestral e originário em cada um de nós. Ele é imediato, isto é, não depende do nosso discernimento ou raciocínio. É como um instinto animal. É inato a todos os seres humanos. Mas esse medo é benéfico. É ele que nos alerta sobre os perigos reais e iminentes. Cair de lugares altos, contato com bichos perigosos e outros tantos perigos que, protegidos exatamente por esse medo, nos mantém seguros. Pode-se dizer que esse medo é tanto real quanto verdadeiro.

Mas há um outro tipo de medo. O medo que aprendemos a sentir. Uma criança pequena, estando no caminho de uma barata, teria talvez curiosidade de pegar, olhar mais de perto e até levar à boca. Mas é exatamente nesse momento que uma mãe zelosa vai até a criança mobilizada e adrenalizada com todo o seu medo, pega a criança no colo com ímpeto, sai de perto do “extremo perigo”, dá um grito bem próximo do ouvidinho da criança, para que alguém a ajude na hercúlea tarefe de se desvencilhar do “perigoso bicho”!

Há uma conexão tanto emotiva quanto de sensibilidade entre a mãe e a criança. O que a mãe sente em seu corpo é facilmente assimilado pela criança. Mesmo o que passa em sua mente. Apesar de ainda não ter discernimento racional suficientemente desenvolvido, a criança capta e armazena imagem, sensação e a conexão entre ambos. Pronto, medo aprendido!

Honestamente falando, não há risco algum nesse encontro. A baratinha, coitada, não oferece risco algum a não ser um bocado de justificável nojo. Mas, ela não vai inocular qualquer tipo de peçonha, provocar um mínimo ferimento, sugar nosso sangue ou qualquer outro tipo de dano. O que ela quer mesmo é sair dali para longe desses gigantes portadores de perigosos chinelos, quando não de seus mortais inseticidas.

Claro que tal explicação, apesar de verdadeira e lógica, não terá a potência necessária para remover o medo das entranhas profundas de muitas pessoas que me leem. O que é importante aqui é perceber que existe um padrão que pode ser aplicado a muitos de nossos medos. Eles são falsos!

O medo é verdadeiro. Qualquer um que estivesse conectado a um aparelho que medisse a química do seu corpo ou sua atividade cerebral poderia atestar que a manifestação do medo é real, perceptível e mensurável. Mas é aí que a coisa começa a ficar interessante.

Lembro que certa feita, minha filha caçula, com não mais que seus quatro ou cinco anos chegou de sua escolinha, logo jogou sua mochilinha num canto e me desferiu a seguinte pergunta de supetão: “Pai, do que você tem medo?”

Eu, que já havia erradicado todos os meus medos falsos, respondi de prontidão que não tinha medo de nada. Ela, com seu jeitinho típico, colocou suas mãozinhas na cintura, tombou a cabeça para mais perto do ombro esquerdo, apoiou-se mais em uma de suas pernas e ajeitando o quadril, contestou: “Não acredito que você não tem medo de nada!”

Aí eu me vi obrigado a discorrer um pouco mais sobre o assunto com ela. É claro que eu tenho medo de que um urso coma a minha cabeça ou um leão arranque meu braço, mas qual a possibilidade disso acontecer, perguntei a ela.

Não sei se foi meu argumento ou a fome que ela estava que a fizeram desistir de contra-argumentar.

O importante aqui é perceber que nós mesmos criamos em nossa mente os piores perigos que tememos. Mas é justamente aqui que precisamos perceber que todo medo tem uma anatomia padrão.

Há a sensação de medo, e essa é tanto real quanto verdadeira. Há o objeto do medo. A barata, o urso, o leão, a demissão, o abandono, a separação. Mas há um terceiro elemento crucial: o grande perigo do medo. Esse é o responsável pelo nosso temor. Não é o leão que tememos, mas o dano que ele pode nos provocar. Não é a demissão, mas o problema que ela pode causar. E esse, inúmeras vezes, é falso. É exagerado, difícil de ocorrer, impossível ou mesmo inventado. Esse é um medo falso. Mas esse também aprendemos com o tempo, a imaginação ou com nossos pais, como no caso da barata.

Perceber que esse medo é falso deveria ser suficiente para nos remover a sensação, mas não é. É preciso um método e uma técnica apropriada para eliminar definitivamente esses medos falsos para que não atrapalhem nossa vida, sobretudo pelo fato de que não nos protegem de perigo real e verdadeiro.


Não é possível nem desejável remover os medos instintivos, reais e verdadeiros. Há que se ter o devido cuidado quando do contato com leões ou ursos, não fomos nós que criamos esses medos, eles nasceram conosco. Mas esses medos falsos, nós mesmos aprendemos ou até criamos. Desses é totalmente possível remover com o conhecimento, o método e a técnica apropriados.

 

Quer saber como?

 

Vamos fazer isso juntos?

 

Agradecimentos:

Foto de Petr Ganaj: https://www.pexels.com/pt-br/foto/um-leao-que-ruge-4032590/



Foto de EIRIK  BILLINGTON: https://www.pexels.com/pt-br/foto/urso-marrom-20291/



 

Comentários

  1. Muito boa reflexão. Li e vou reler, repensar e refletir meus mefos

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    1. Desculpa a palavra correta é medo

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    2. Obrigado pelo comentário. Me acompanhe em outras reflexões.

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